O termo inovação tem ganhado grande destaque nos últimos anos. E não é pra menos: as mudanças sociais e tecnológicas cada vez mais rápidas, os ‘ciclos’ de renovação ficando cada vez menores e o choque da própria humanidade com o ambiente que ela mesma cirou – todos estes itens juntos – criaram a necessidade constante de mudar o modo como as coisas são feitas quando este modo não funciona mais.

Porém o que temos visto ultimamente é uma verdadeira enxurrada de empresas e startups que – para ser direto – vendem inovações que ou não são novidades ou simplesmente não trazem tantos benefícios como os que são vendidos.

Para citar um exemplo recente, podemos analisar o ‘conceito inovador de hamburgueria’ criado por Bel Pesce e mais dois amigos em 2016: a Zebeléo lançou-se como ‘a primeira hamburgueria viabilizada integralmente com capital de crowdfunding’. Foram 10 minutos de vídeo explicando o porque da tal hamburgueria seria tão inovadora. Como diz uma amiga minha, forma 10 minutos ‘falando água’, ou seja, disseram muito e não explicaram nada. A ideia inovadora foi um fiasco e seus idealizadores sofrem críticas até hoje.

Em seu excelente artigo ‘Os fashion-setters e sua difusão de “inovações”’, JC Rodrigues, especialista em negócios digitais e impacto da tecnologia no comportamento humano, define bem o conceito de inovação não-inovadora quando diz : “Os fashion-setters se alimentam destas pessoas(leia-se os aspirantes inovadores). Deturpam novas terminologias, criam neologismos e jogos-de-palavras (ou colocam o prefixo “neuro” antes de uma palavra) para vender o mesmo com uma cara nova – o “neuromarketing”, por exemplo, traz telas coloridas para conceitos já explorados por Engel, Kollat & Blackwell em 1974”.

Me lembro de umas das primeiras vezes que li o termo inovação. Era um artigo sobre Jonh D. Rockfeller – magnata do petróleo que revolucionou a indústria do petróleo e também lucrou com o próprio resíduo da produção. Até então ninguém utilizava o resíduo da produção de petróleo. Rockefeller viu aí uma oportunidade e controlou 90% do mercado americano. Num tempo sem internet e televisão.

O que percebo é que Rockefeller realmente inovou: fez algo que ninguém havia feito antes, movimentou a economia e ganhou dinheiro com isso. Isso é a inovação na sua forma mais pura.

Porém, o fato é que ideias já antigas tem sido exploradas e vendidas como inovação. E isso tem um efeito duplamente negativo sobre a economia e a própria evolução: mudanças que realmente mudariam a humanidade – ou pelo menos grande parte dela – não são implementadas e no seu lugar são vendidas pequenas inovações que não colocam o planeta em uma posição mais avançada do que estava ontem – como hamburguerias e aplicativos de produtividade(como Rockfeller, Carnegie e Vanderbilt conseguiam sem o RunRun?)

Elon Musk, um dos fundadores do PayPal e criador da Tesla Motors e da SpaceX é um crítico ferrenho de Mark Zuckerberg, criador do Facebook. Elon afirma que o Facebook não é útil para a humanidade como deveria ser – considerando a visão e o poder financeiro de seu cirador. Não é exagero pensar desta forma quando se é o criador da maior empresa de carros elétricos do mundo e de uma grande empresa de exploração espacial – que realiza as mesmas missões que a NASA realiza, só que de forma muito mais barata. E não é preciso pensar muito em qual dos dois cria produtos de impactos para o ser humano. Enquanto um pensa em exploração de outros planetas e preservação do nosso, o outro pensa em curtidas e emoticons.

Por fim, é válido lembrar que quando uma inovação não-inovadora é vendida como algo de valor, o próprio conceito de valor é deturpado e dá lugar a uma avalanche de modismos e palavras americanizadas para designar conceitos nem tão úteis quanto parecem: ‘Below The Line, Strorytelling, Must Have’. Esquecem de criar o valor – para vender a aparência do valor.