Faturamento do setor em 2016 foi de US$ 1,6 bilhão, 25% a mais que em 2014. Dados do IBGE mostram destaque do segmento de informática na atividade de serviços.

Enquanto o setor de serviços no Brasil tem sofrido quedas consecutivas, um nicho prospera em tendência oposta. Trata-se do mercado de produção de jogos virtuais. Em oito anos, o número de empresas desenvolvedoras de games aumentou em quase 600%. Já o faturamento do setor no país cresceu 25% entre 2014 e 2016.

“Em 2008, tínhamos 43 empresas de games no Brasil. Em 2014, esse número subiu para 130. Hoje, são aproximadamente 300 empresas de games no país”, apontou Eliana Russi, diretora da Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames).

Segundo a entidade, levantamento feito pela NewZoo, uma das principais condutoras de pesquisas sobre a indústria dos games no mundo, mostra que em 2016 o setor faturou US$ 1,6 bilhão no Brasil, um aumento de 25% em relação a 2014, quando o mercado brasileiro de jogos digitais movimentou US$ 1,28 bilhão.

Os números apresentados pela Abragames ratificam os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam crescimento real dos serviços de informática, mostrando tendência inversa à dos demais serviços no país.

Segundo o IBGE, na comparação entre novembro de 2016 com o mesmo mês do ano anterior, o volume de serviços no país registrou queda de 4,6%. Em contrapartida, o volume dos serviços de tecnologia da informação cresceram 4,2%. De acordo com o analista da Coordenação de Serviços e Comércios do IBGE, Roberto Saldanha, esse crescimento se deve ao mercado de games.

“O setor de informática vem apresentando crescimento real ao longo dos últimos meses. A produção de games é o que tem impulsionado bastante o setor”, destacou o economista do IBGE.

Outro dado da Abragames que evidencia o aquecimento do setor é a rodada de negócios realizada no BIG Festival. Organizado pela entidade, ele é considerado o terceiro maior festival de jogos independentes do mundo e o maior da América Latina.

Segundo a Abragames, em 2014 o valor de negócios fechados a partir do festival foi de US$ 2,9 milhões. Em 2015, a soma foi de US$ 11 milhões na geração de negócios. Já na quarta edição do evento, realizada em 2016, a estimativa da entidade é que a soma de negócios fechados chegue a US$ 20,7 milhões – um crescimento de cerca de 700% em dois anos.

Dedicação exclusiva

Há 14 anos, o professor Raoni Dorim, de 37 anos, trabalha com jogos digitais, sempre prestando serviços a terceiros. Diante do aquecimento do setor, no entanto, em 2016 ele percebeu que era hora de se dedicar exclusivamente ao mercado. Beneficiado por dois programas de aceleração no exterior, um no Vale do Silício e outro na Malásia, passou meses fora do Brasil e voltou disposto a investir no crescimento do mercado.

“Depois dessas viagens, eu voltei pilhado. A primeira coisa que fiz foi montar a Gameing, Associação Mineira de Jogos”, disse Dorim.

Raoni Dorim é um dos sócios da Mopix Games e um dos idealizadores da Gaming, a Associação Mineira de Jogos (Foto: Arquivo Pessoal)

Foram dois meses entre a idealização da Gameing e a assembleia de sua criação. “Atualmente, a gente tem 44 empresas associadas. Destas, sete são instituições de ensino, 11 são empresas de apoio ao setor e 26 são estúdios de desenvolvimento”, destacou o professor.

Raoni Dorim é sócio da Mopix Games, criadora do jogo Magic Master, atualmente disponível para Android e iOS. Embora já esteja sendo comercializado, o game continua em fase de desenvolvimento. Foi por causa deste jogo que a Mopix foi selecionada para os dois programas de aceleração no exterior e recebeu US$ 25 mil de investimento.

Segundo Dorim, há várias plataformas para a saída de jogos no Brasil. A maioria do mercado, porém, é voltado para mobile. “Para as plataformas de consoles, como Playstation, Xbox e Nintendo, a concorrência com as empresas gigantes é muito grande e cruel”, disse.

A produção de jogos digitais, porém, não se restringe ao entretenimento. Um dos nichos com grande potencial de crescimento, segundo Dorim, é o de serious games, ou jogos empresariais. “Ele engloba jogos publicitários para divulgação de produtos; jogos educativos, que fazem treinamento de funcionários, para ensinar conteúdos, e simuladores, que também tem um pouco a ver com treinamento. Hoje temos simuladores para qualquer máquina operável, principalmente as máquinas de grande porte”, destacou.

Para quem pretende ingressar no mercado, Dorim sugere a participação em encontros do setor, conhecer as pessoas que trabalham com o desenvolvimento de jogos e se inteirar sobre as novidades do mercado. “Ter um segundo emprego para segurar as pontas é uma boa também, para garantir uma renda fixa até se estabelecer”, ponderou.

 

Fonte: G1